A cada dois dias, uma mulher registra um boletim de ocorrência por
assédio no Metrô e na CPTM. Dois em cada três casos (69%) aconteceram
nos horários de pico. Dados obtidos pelo Estado, por meio da Lei de
Acesso à Informação, mostram que de Janeiro a Agosto de 2015 foram
registrados cem casos de assédio sexual. No mesmo período do ano
passado, foram 65. Apesar do aumento de 53%, os números podem até ser
menores que a realidade, pois muitas não denunciam o assédio.
Entre
as vítimas que procuraram a polícia, há mulheres de 11 a 57 anos que
relataram ter sido perseguidas, ameaçadas, agredidas, apalpadas e
filmadas. Há ainda registro de homens que se masturbaram e ejacularam na
roupa das vítimas e até mesmo um caso de estupro.
Além de
acontecer em horários de maior circulação e nas linhas com o maior
número de passageiros – Azul e Vermelha concentram 84% dos registros –,
mesmo acompanhadas, as mulheres não estão seguras. Há relatos de crimes
sexuais em que as vítimas estavas com a mãe ou com o marido.
Assediada
no dia 15, às 6h30 em uma linha da CPTM, Paula Sionti, de 18 anos, tem o
perfil da maioria das vítimas – 65% das mulheres assediadas têm entre
18 e 29 anos. “O vagão estava muito lotado, mal conseguia me mexer e
comecei a sentir um homem se esfregando em mim. Ele chegou a passar a
mão na minha genitália. Na hora eu travei, não consegui gritar, xingar
ou fazer qualquer coisa. Tive medo da reação dele e das outras pessoas”,
contou. O agressor não foi identificado.
Segurança da Linha Azul
há 13 anos e um dos diretores do sindicato dos metroviários, Caio
Peretti estima que a cada dez mulheres que relatam assédio sexual, oito
desistem de registrar boletim de ocorrência por não acreditar que o
agressor será preso. “Se não conseguimos identificar e localizar o autor
para fazer o flagrante, a vítima não registra. É comum as pessoas serem
assediadas e nós não conseguirmos (fazer o flagrante) porque falta
efetivo”, afirmou. “Acaba não entrando na estatística, mas o número de
casos de assédio é muito maior. ”
Paula, por exemplo, não entrou
para as estatísticas porque não se sentiu segura em procurar ajuda.
“Estava com uma calça legging na hora e achei que poderiam dizer que eu
era culpada por isso. Lembrei dos casos em que os próprios guardas
assediaram as meninas e não me senti segura. ” Neste ano, dois agentes
da CPTM foram demitidos por assediar passageiras.
Segundo o Metrô,
dos 1.200 seguranças, 156 são mulheres, o que é “mais do que
suficiente”, segundo a companhia, que assegura haver pelo menos uma
mulher em cada estação. Também disse ter 3.900 câmeras espalhadas em 70%
dos vagões e em todas as estações, com exceção da Conceição e
Jabaquara, da Linha Azul, a mais antiga.
Campeã de registros, a Sé
concentrou 19% dos casos deste ano. De acordo com o Metrô, não
significa que a estação seja a que tem mais assédios, mas a que
concentra o maior número de desembarques.
Luzia Margareth Rago,
historiadora da Unicamp, diz que os
assédios são sustentados por uma cultura machista, que torna a mulher
objeto, e pelo fato de que o autor dificilmente será punido. “Quem
assedia dessa forma não quer lisonjear, quer intimidar. ”
Em um
dos casos registrados neste ano, um homem mostrou o pênis para uma
estudante de 23 anos. Ele foi detido por seguranças e se constatou que
já tinha outros dois boletins de ocorrência por importunação ofensiva ao
pudor – que é a tipificação mais comum, registrada em 86% dos casos.
Mesmo assim, o homem foi liberado.
Fonte da Notícia: Revista Ferroviária
Imagem: Metrô
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