Caso você seja usuário das linhas do Metrô de São Paulo ou da CPTM ou
no Metrô do Rio ou na SuperVia você já deve ter presenciado algum tipo
de comércio acontecendo dentro de carros e composições, na SuperVia, é
possível ver este comércio acontecendo até mesmo em plataformas. O
assunto é controverso e por isso mesmo ele precisa ser entendido e
tratado de forma bastante clara e objetiva.
A questão social:
Apesar de nosso país não estar mergulhado em nenhuma crise econômica
no momento (e isso é um alívio), o custo de vida nas cidades grandes
continua alto e para nos manter no mercado de trabalho precisamos estar
sempre buscando conhecimento para nos manter qualificados às vagas de
emprego disponíveis. E para isso, precisamos mais e mais de
conhecimento. É um círculo sem fim. Acreditem, existem várias vagas
disponíveis por aí. Mas não existe profissional qualificado para
preencher tais vagas. E infelizmente neste modelo de vida que adotamos,
aqueles que não puderam, por qualquer motivo, acesso a uma boa escola ou
faculdade/universidade ficam “à margem” desta expectativa, renegados a
subempregos recebendo salários baixos. E, em algumas situações, não
conseguem manter o que já foi conquistado e pior, perdem o pouco que
ainda tem. Para estes trabalhadores, além dos subempregos, muitas vezes
alguns recorrem ao crime ou recorrem ao mercado informal/não
regulamentado.
Alguns órgãos do governo e ONGs tentam recolocar estas pessoas no
mercado de trabalho formal, oferecendo cursos de capacitação
profissional e até cursos em línguas estrangeiras. É um esforço imenso
para que todos possam ter acesso a um trabalho digno, com vínculo
empregatício. O mercado informal no Brasil alcançou 15,9%, segundo dados
de novembro de 2013 da FGV. É um número significativo. No português
claro, é o “brasileiro se virando nos trinta”.
Mas o brasileiro, apesar de uma parcela grande da população ter um
perfil de “gente que faz”, existe outra grande parcela da população que
vive “do jeitinho”. E em alguns casos, quem vive de “jeitinho” tem até
renda maior do que os que trabalham formalmente. Este perfil “malandro”
do brasileiro, tão elogiado no exterior acaba criando mais uma vez, uma
sensação de impunidade e que no país não existem regras. O comércio
ambulante não paga impostos e os lojistas não conseguem oferecer um
preço tão competitivo. E soa injusto a alguns comerciantes. E é
realmente. No âmbito geral, é o que vemos desde muito tempo pelas ruas.
Mas e nos “trilhos”, como a questão é encarada?
A inversão de valores:
Caso seja feita uma pesquisa, muitos usuários vão alegar que não se importam
com o mercado dentro dos carros por acreditar que “estão ajudando” os
outros comprando balas e outras coisas vendidas. Alguns podem dizer: “é
melhor estar vendendo lá do que estar roubando”. São argumentos válidos,
assim como uma pergunta que paira em nossas cabeças: “Qual é a
procedência destas mercadorias?” “Estas pessoas estão envolvidas com o
tráfico de drogas ou com algum tipo de crime”? A grande massa vê quem
vende no trem e no metrô como “coitadinhos” e que eles precisam ser
ajudados. A questão aqui é a inversão de valores: você, caro leitor já
pensou em perguntar se estas pessoas aceitariam um emprego formal, “com
carteira assinada”? Podemos imaginar que uma parcela deixará o mercado
informal para estar no mercado de trabalho formal, mas existe outra
parcela que vai negar, afirmando que sua renda será maior se continuar
vendendo como ambulante.
Aliás, ilegalidade é uma palavra que o brasileiro gosta muito de
utilizar para falar de políticos e outras pessoas, mas quando se trata
de si próprio, o brasileiro não enxerga a sua atividade como ilegal.
Tanto CPTM quanto Metrô possuem estatutos e regras que chancelam a
questão: é proibido o comércio irregular. É proibido, por que então
estimular? Se está proibido, por que comprar? A quem será que estamos
ajudando de verdade quando compramos balas, chicletes e outros produtos
nos trens e no Metrô?
A Dificuldade do Combate
Com as informações já fornecidas, chegamos ao fim deste post com as seguintes perguntas:
- Por que o comércio irregular ainda existe? Por que o usuário continua comprando. E se existe mercado, por que não vender?
- Por que o comércio irregular é tão difícil de ser controlado e
combatido? Apesar de existirem em São Paulo os serviços de SMS Denúncia,
tanto na CPTM quanto no Metrô, muitas vezes nossas tentativas de ajudar
são frustradas por problemas de comunicação da nossa telefonia móvel já
que em várias áreas de plataformas e túneis não há sinal para o envio
do SMS, pelo número pequeno de agentes de segurança presentes nas linhas
e pela falta de agilidade dos mesmos em coibir o mercado irregular. Na
Linha 3 – Vermelha é nítido a facilidade que os vendedores têm para
trocar de trens, indo e voltando em um mesmo trecho (Penha – Artur
Alvim), principalmente nos finais de semana. Segundo relatos, na CPTM a
questão é ainda pior, fica clara a falta de iniciativa de ambas as
companhias em banir de forma efetiva a prática do comércio irregular. E
novamente, quando questionadas, ambas emitem documentos padrões
afirmando o que todos nós já sabemos: nem tão cedo o regulamento será
posto em prática.
Muitos usuários reportam os problemas com fotos e vídeos através das
redes sociais, mas conforme regulamentação de lei, as redes sociais
ainda não são prova de conduta fora do padrão de ambas as companhias. E
se cria mais um ciclo vicioso.
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