Durante as obras de reconversão urbana do Largo
da Batata, onde está a estação, descobriu-se um sítio arqueológico, onde foram
coletadas cerca de 30 mil peças do século 19.
O arqueólogo responsável pelo trabalho, Plácido
Cali, finaliza um relatório que levou três anos para ficar pronto e deverá ser
entregue no início do ano para o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional).
O DIÁRIO teve acesso ao documento e publica com
exclusividade trechos que revelam a importância do material coletado. O sítio
arqueológico Pinheiros localiza-se em terreno na esquina das ruas Paes Leme e
Fernão Dias, em frente à Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat, na Zona
Oeste.
“Devido à sua localização, próximo ao Largo de
Pinheiros e em frente à igreja, no século 19 existiam no local casas e
estabelecimentos comerciais”, diz o relatório. “Esse povoamento teve suas
origens no século 16, a partir da formação do Aldeamento dos Pinheiros,
constituído pelos jesuítas atraindo indígenas que se estabeleceram no entorno da
Capela de Nossa Senhora da Conceição.”
Ainda de acordo com o relatório, “o Sítio
Arqueológico Pinheiros permite-nos conhecer um pouco do cotidiano dessas
famílias, seus hábitos alimentares, os padrões de consumo, os tipos de
habitações, bem como as atividades comerciais presentes no local, em especial os
tradicionais bares que há 150 anos existiam na Rua Teodoro Sampaio”.
No inventário das peças recolhidas, o
arqueólogo Plácido Cali afirmou que os objetos encontrados são,
predominantemente, de uso doméstico, como louças, garrafas de bebidas, de
perfumes e de remédios, além de potes de cerâmica. Quase todas as peças eram
importadas da Inglaterra, havendo ainda louças e frascos de bebidas provenientes
da Holanda, da França, da Alemanha e de Portugal. “Havia ali uma antiga
taberna”, explicou Cali.
Prefeitura tentou desqualificar
conjunto de objetos achados
A Prefeitura de São Paulo e o Iphan (Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que é ligado ao governo federal,
entraram em verdadeira guerra por causa do sítio arqueológico descoberto nas
obras de revitalização do Largo da Batata.
Em 2009, quando o sítio foi descoberto, a
Prefeitura convocou jornalistas para tentar mostrar que os objetos encontrados
no local não passavam de utensílios domésticos dos anos 1950, de valor
histórico nulo.
A Prefeitura tentou desqualificar o material
porque parte das obras de revitalização do Largo da Batata ficou paralisada
justamente por causa do sítio arqueológico, o que atrasaria as inaugurações.
O Iphan recebeu denúncia de que no local havia
material histórico e determinou que os trabalhos ficassem suspensos até que toda
a área fosse analisada. Durante a análise verificou-se que os objetos
encontrados a cerca de um metro da superfície foram fabricados quase 200 anos
atrás na Europa e eram, portanto, de imenso valor histórico.
Pote do século 16 foi recolhido em
plena Avenida Faria Lima
São Paulo tem 50 sítios arqueológicos
conhecidos ao redor da sua região metropolitana.
A cerâmica mais antiga da capital foi
encontrada em plena Avenida Faria Lima, na Zona Oeste. Trata-se de um fragmento
de pote da época da fundação da cidade, em 1554, achado na área onde existiu uma
antiga casa bandeirista do Itaim.
Na região da Luz, no Centro, em outro sítio
descoberto, foram resgatadas peças de cozinha de 200 anos. Na Lapa, na Zona
Oeste, os achados são cerca de 30 mil peças da Santa Catharina, primeira
fabricante de louças brancas da América do Sul.
Foi na área da Praça das Artes, um complexo
cultural construído atrás do Teatro Municipal, no Centro, que um grupo de
arqueólogos encontrou xícaras, cachimbos, frascos de remédio e brinquedos, como
soldadinhos de chumbo, de meados do século 19. Como não havia coleta de lixo na
cidade, restos do lixo doméstico contendo tudo o que havia quebrado e não era
mais útil aos moradores era enterrado.
Legislação determina inspeção
arqueológica
Em 1986, o Conselho Nacional do Meio Ambiente publicou uma
resolução que obriga os estudos de impacto ambiental a desenvolverem atividades
técnicas que contemplem “os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e
culturais da comunidade”. Desde essa data, obras de grande porte e em regiões de
potencial histórico passam por inspeção.
Exigência esquentou setor de
arqueologia
A determinação mudou o
trabalho de campo dos arqueólogos. Em 1991, cinco estudos de campo foram
realizados no país. O número saltou para 756 em 2009. Em 2010 já eram 969 e o
número não para de crescer, alavancado pela expansão da construção civil
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