Com base em 32 conjuntos de mensagens trocadas por e-mail entre
executivos da empreiteira Odebrecht, a Polícia Federal organizou uma
lista dos casos em que a empresa é suspeita de ter pago propina a
políticos para obter vantagens indevidas em contratos com o poder
público. Entre elas estão mensagens com pedidos de pagamentos de
porcentagens referentes a obras das Linhas 2-Verde e 4-Amarela do Metrô
de São Paulo.
Os e-mails revelam ainda um pedido de pagamento de
R$ 500 mil, em 2004, relacionado a uma “ajuda de campanha com vistas a
nossos interesses locais”. Na mensagem, assinada pelo diretor da
Odebrecht responsável pelo contrato da Linha 4-Amarela, Marcio Pellegrini, ao
Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, conhecido como
“departamento de propinas” da empreiteira, há uma referência ao codinome
“Santo”.
A PF, contudo, afirma não ter identificado a quem se
referem os codinomes destas planilhas e, por isso, os possíveis
destinatários destes pagamentos não foram alvo da Operação Omertà, 35.ª
fase da Lava Jato.
“Verificou-se
que alguns pagamentos eram solicitados explicitamente a título de
contribuição para campanhas eleitorais, mas, ao contrário de qualquer
alegação de que se tratariam apenas de contribuição popularmente
conhecida como caixa 2, encontravam-se diretamente atrelados ao
favorecimento futuro da Odebrecht em obras públicas da área de
interferência dos agentes políticos”, afirmou o delegado da PF Filipe
Hile Pace.
Ao todo, a PF lista mais de 20 e-mails referentes às
obras do metrô paulista, sempre partindo dos diretores e executivos
ligados à obra para executivos do “departamento de propinas” e para o
então presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Barbosa Júnior,
que na maioria dos casos repassava o pedido de pagamento para Marcelo
Odebrecht aprovar.
Nas trocas de e-mails aparecem o total de nove
apelidos, sendo seis ligados às obras da Linha 2-Verde e a porcentagens de
pagamentos que variam de 0,5% a 4%, e dois ligados às obras da Linha 4-Amarela. A
Odebrecht participou do consórcio que fez os lotes 1 e 2 da Linha 4-Amarela e
também atuou na expansão da Linha 2-Verde, ligando as Estações Ana Rosa e
Santos-Imigrantes.
Linha 2-Verde
Em 04/01/2006,
por exemplo, Fábio Gandolfo, diretor de contrato da Linha 2-Verde, encaminha a
Ubiraci Santos, apontado como um dos responsáveis por fazer as
solicitações de pagamentos ilícitos do Setor de Operações Estruturadas,
uma planilha com pagamentos para “Corintiano”, “Estrela”, “Bragança” e
“Brasileiro”, previstos para 11/01/2006.
Em outro e-mail, de
maio, com o assunto “Metro SP”, Gandolfo informa que foi assinado um
aditivo contratual referente ao lote 3 da obra, no valor de R$ 37,7
milhões, e pede que seja adicionado as propinas referentes a este
aditivo à “Planilha DGI”. Segundo a Lava Jato, a sigla DGI era utilizada
com frequência pelos executivos da Odebrecht para se referir aos
pagamentos ilícitos e aos acertos do “departamento de propina”.
Neste
aditivo, o maior porcentual ficaria, segundo a planilha, com “Estrela”,
o equivalente a 4% do valor do contrato, totalizando R$ 1,5 milhão.
Rio. Na lista de obras citadas nas mensagens reveladas pela PF, 14 se
referem a obras no Rio de Janeiro – 11 na capital, duas em Rio das
Ostras e uma em Campos.
Esses
e-mails permitem concluir que 16 pessoas ou grupos de pessoas se
beneficiaram da propina. Elas são identificadas por codinomes como
“Bolinha”, “Pavão”, “Rasputim”, “Barba Negra” e “Casa de Doido”.
Defesa
Por
meio de nota, o Governo de São Paulo afirmou que o Governador Geraldo
Alckmin não mantém relações com empresários “que não sejam
pautadas estritamente pelo interesse público”.
“O Governo de São
Paulo está à disposição para colaborar com a força tarefa e já
determinou que a CGA solicite
compartilhamento de informações.”
Também em nota, a Secretaria de
Transportes de São Paulo afirma desconhecer irregularidades em suas
obras. “As empresas, contudo, estão à disposição para colaborar com a
Força Tarefa da Lava Jato e esclarecer toda e qualquer informações.”
Consultada pela reportagem, a Odebrecht não quis se manifestar.
Fonte da notícia: MSN