Pressionado pela crise financeira, pela redução no número de
passageiros pagantes e pelo aumento no total de beneficiários de gratuidades, o
Metrô de São Paulo teve uma queda drástica em seus investimentos no primeiro
semestre deste ano.
Levantamento baseado em informações de execução orçamentária
da própria companhia aponta redução nos últimos dois anos no dinheiro
desembolsado tanto para expandir como para manter linhas, trens e estações.
Em relação ao 1º Semestre de 2014, a queda foi de 60%
nos recursos com operação das quatro linhas que administra, de 72% nos
investimentos em manutenção e modernização de trens e equipamentos e de 33% no
total destinado às obras de expansão da malha metroviária.
Se dedicou R$ 54 milhões à operação no primeiro semestre de
2014, incluindo verbas de manutenção e administração das linhas; nos primeiros
seis meses de 2016, foram somente R$ 22 milhões.
No quesito melhorias da infraestrutura das linhas e
qualidade dos trens, os gastos caíram de R$ 192 milhões para R$ 55 milhões
nesse período.
O Governo Geraldo Alckmin atribui a diferença a
fatores diversos –além da crise econômica, cita que parte das melhorias foi
feita antes e que trabalha com cronograma de gastos do ano inteiro, e não
apenas de um semestre.
Para os 4,7 milhões de passageiros do metrô, no entanto,
existem indícios de impacto na qualidade dos serviços e atrasos em obras.
Como revelou a Folha, a companhia tinha 14 trens a menos
disponíveis para operação em janeiro deste ano do que há cinco anos atrás.
Além disso, pelo menos cinco trens da empresa foram
retirados de operação neste ano para servir de estoque de peças de reposição
para outras composições —mais um sinal de que a manutenção estava em nível
insuficiente.
Funcionários também afirmam que cada vez mais faltam peças
para reposição. Com menos trens à disposição, mais lotados ficam os vagões,
especialmente nos horários de pico, e maiores são os intervalos entre as
viagens.
Os usuários precisam esperar mais neste ano do que em 2010
nas duas linhas mais utilizadas do sistema: a 1-Azul (onde a demora média foi
de 122 para 129 segundos) e a 3-Vermelha (onde ela subiu de 112 para 128
segundos).
Freio na expansão
Além da queda nos gastos com operação e modernização, o
Metrô colocou um freio nos investimentos dedicados ao seu plano de expansão.
Considerando apenas a expansão das Linhas 5-Lilás e 15-Prata
e a construção do monotrilho da Linha 17-Ouro, os recursos investidos
diminuíram de R$ 1,4 bilhão nos primeiros seis meses de 2014 para R$ 940
milhões em igual período deste ano. A maior redução ocorreu na Linha 17-Ouro, com
queda de 76%: de R$ 236 milhões para R$ 58 milhões. Essas obras estão atrasadas
e tiveram seus prazos postergados pela gestão Alckmin.
Diferentemente do que ocorreu em 2014 e 2015, o Metrô não desembolsou
em 2016 nem um centavo na extensão da Linha 2-Verde ou em novos projetos de
expansão.
Na Linha 4-Amarela, o ritmo de gastos também diminuiu, mas
porque a empresa escolhida pelo governo rompeu o contrato, e houve necessidade
de promover nova licitação, o que levou a uma longa paralisação nas obras.
O Sindicato dos Metroviários afirma que a redução nos
investimentos "é uma política de sucateamento para justificar a
privatização das linhas". O Metrô planeja seis de suas nove linhas, a
maioria em obras, sob gestão privada.
Outro lado
O Metrô cita vários fatores para a diminuição de gastos no
primeiro semestre de 2016. Afirma que a crise econômica impactou na expansão da
malha, que também foi prejudicada pelo abandono de obras por empresas.
A companhia, da gestão Alckmin, diz ainda que considera as
verbas de um ano fiscal completo, e não apenas de seis meses. Sobre manutenção
e modernização, declara que já entregou diversas melhorias em anos anteriores.
"As conclusões da reportagem acerca da execução orçamentária
são prematuras, pois os percentuais definitivos são conhecidos quando do
fechamento do ano fiscal", defende a empresa.
Segundo o Metrô, os recursos podem ser maiores ou menores de
acordo com a etapa de execução das obras ou entrega de trens e serviços. Como
exemplo, cita a expansão da Linha 5-Lilás, que já tem 100% dos 11,5 km de
túneis escavados. Agora, "os serviços estão concentrados no acabamento das
vias e das estações –o que implica num investimento muito menor".
Sobre os investimentos em modernização, a companhia diz que
"a quantidade de recursos para a rubrica 'recapacitação e modernização das
linhas' acompanha os grandes investimentos feitos nos últimos anos".
A empresa afirma que 80 das 98 composições contratadas já
foram entregues e cita a implantação de sistema de freios ABS nos trens das Linhas 1-Azul e 3-Vermelha, além da revitalização de 21 estações.
Sobre a redução nos gastos com a expansão da malha, a
companhia declara que "o governo do Estado mantém investimentos essenciais
para a mobilidade urbana na capital, mesmo com alta da inflação e dos juros,
queda do PIB e diminuição da arrecadação do ICMS, reflexos da crise econômica
do país".
Por fim, o Metrô diz que a redução dos recursos para obras
de expansão da Linha 4-Amarela e de construção da Linha 17-Ouro está relacionada ao abandono
dos trabalhos pelas empresas.
Fonte da Notícia: Revista Ferroviária/Folha de São Paulo
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