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segunda-feira, 4 de abril de 2016

Atrasos em obras de Monotrilhos excluem regiões de zoneamento em São Paulo

Obras da Linha 15-Prata próximo a Futura Estação Jardim Planalto
As áreas onde devem circular os Monotrilhos na cidade de São Paulo foram excluídas das regras da nova Lei de Zoneamento, publicada no Diário Oficial de São Paulo, que entre os vários pontos prevê o adensamento ao longo de eixos de transporte estruturais, como trens da CPTM, Metrô e corredores de ônibus.

Em consulta ao Diário Oficial, é possível perceber que as regiões onde serão instaladas ou já foram instaladas as pilastras dos trens de média capacidade que circularão nos elevados, não foram incluídas nas zonas que permitem, por exemplo, a construção de imóveis residenciais com até duas vagas de garagem e custos menores.

Nestas áreas também as construtoras podem criar uma vaga de estacionamento para cada 60 metros quadrados de construção, sem ter de pagar a mais por isso, reduzindo o preço dos imóveis.

A Prefeitura de São Paulo confirma a não inclusão das áreas dos Monotrilhos das linhas 15-Prata, da Zona Leste, 17-Ouro, da Zona Sul, e 18-Bronze que deve chegar ao ABC Paulista.

Em entrevista coletiva durante a apresentação da nova lei, o Prefeito Fernando Haddad, disse que a decisão não é apenas por causa dos atrasos nas obras, mas, sobretudo, pelas incertezas técnicas sobre o funcionamento dos monotrilhos. Há dúvidas também em relação aos projetos e sobre os impactos na configuração dos locais que seriam servidos pelo novo sistema de transportes.

Há interferências acima das normais e fora do que está nos projetos. A Linha 15-Prata, da zona leste de São Paulo, enfrentou entraves porque, segundo engenheiros ferroviários, o metrô descobriu galerias de água sob a Avenida Professor Luiz Inácio de Anhaia Mello. O metrô alegou que já tinha conhecimento das estruturas pluviais, mas teve de realizar intervenções não previstas.

“Não tem como saber ao certo o que pode ocorrer do ponto de vista de intervenções onde vai ter monotrilho. É difícil fazer um planejamento para os próximos anos e incluir [na lei de zoneamento]. Há dúvidas técnicas” – disse Haddad.

Os monotrilhos em São Paulo levantam diversas polêmicas e são alvos de críticas.

O Governo de São Paulo prometeu entregar entre 2012 e 2015, um total de 59,7 quilômetros de monotrilhos em três linhas. Apenas 2,9 quilômetros, entre as Estações Oratório e Terminal Vila Prudente, da Linha 15-Prata, estão em operação e ainda com horário menor que dos trens, metrô e ônibus.

Duas linhas, a 15- Prata e a 17-Ouro, que somam 44 quilômetros estão em construção, sendo que 21,9 quilômetros foram congelados.

A situação da Linha 18-Bronze, de 15,7 quilômetros, entre o ABC Paulista e a Capital, é mais problemática ainda. As obras não começaram.

Problemas não só em relação às obras, mas aos altos custos de implantação do modal, dificuldades financeiras de construtoras e empresas fabricantes de trens, incertezas sobre a viabilidade operacional e até mesmo interpretação de contratos, como a cláusula que impede o início das obras da Linha 18-Bronze até a operação, mesmo que em testes, da Linha 17-Ouro, são alguns dos marcos dos Monotrilhos de São Paulo.

Em entrevistas e artigos, estudiosos das áreas de transportes e urbanismo criticam a escolha de monotrilhos para a cidade de São Paulo e região metropolitana.

Estação Oratório (Linha 15-Prata)
O engenheiro e mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia, Marcus Vinicius Quintella Cury, elaborou um estudo intitulado “A verdadeira realidade dos Monotrilhos Urbanos – Sonho ou Utopia: De volta ao Futuro?”. No levantamento de sistemas em diversas partes do mundo, o especialista mostra que vários fatores levaram à desativação de linhas de monotrilho:
O especialista e professor de mobilidade urbana, Marcos Kiyoto, diz que é um erro o governo Alckmin ter feito a sociedade acreditar que mudando a tecnologia de modal, os problemas de mobilidade seriam resolvidos.

“O Monotrilho não é um caso isolado, as outras linhas de metrô em construção estão atrasadas, mas eu concordo que ele simboliza uma falta de capacidade em implantar transporte coletivo. O erro, a meu ver, foi acreditar que uma nova tecnologia pudesse resolver nossos problemas” – disse o especialista.

O urbanista Moreno Zaidan Garcia disse que os números de demanda para os monotrilhos em São Paulo podem ter sido superestimados e não corresponderem à realidade. Ou então, os sistemas já nascerão saturados.

Para chegar ao número de passageiros hora que serão transportados, o sistema já começará operando no limite de 6 pessoas por m² dentro dos vagões. “Claro, eu não estou falando de um problema exclusivo do Governo do Estado, é um problema brasileiro. Agora, uma suposição para a opção pelo monotrilho é que talvez ele tenha parecido atraente porque, ao contrário de obras de metrô subterrâneo, ele foi vendido como algo que poderia ser inaugurado dentro de uma mesma gestão”. 

Outro lado

O Metrô de São Paulo defende o monotrilho, dizendo que o sistema pode trazer vantagens para a população.

“O Monotrilho é um sistema de transporte coletivo composto por trens que trafegam com pneus de borracha em via elevada. Movido a eletricidade, opera sem condutor e viaja a uma velocidade de até 80km/h, com intervalo entre trens de 90 segundos. O sistema Monotrilho já opera em diversos países como Alemanha, Austrália, China, Emirados Árabes, Estados Unidos, Inglaterra, Japão, Malásia, Rússia e Singapura.”

Entre os benefícios prometidos pelo Metrô estão: “Mesma qualidade de serviço do Metrô subterrâneo, diminuição da poluição atmosférica,  conforto e rapidez nas viagens, menor tempo nos deslocamentos, maior integração entre os bairros, melhoria no trânsito, aumento da mobilidade, ampliação dos investimentos da região, geração de novos empregos, geração de novos polos de comércio e serviços.”

O Metrô atribui os congelamentos das obras dos extremos das Linhas 15-Prata e 17-Ouro e o fato de a Linha 18-Bronze não ter sido iniciada a questões financeiras agravadas pela crise econômica e por dificuldades em receber repasses da União e classificou outros entraves, como as galerias de águas, como “questões pontuais”.

Fonte da Notícia: Blog Ponto de Ônibus
Imagem 1: Lucas Souza 
Imagem 2: Créditos Reservados ao Autor

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