Estação Consolação (Linha 2-Verde) depredada na noite de 14/01/2016 |
Cenas lamentáveis foram vistas depois do encerramento do terceiro ato
contra o aumento das passagens em São Paulo na noite de 14/01/2016. O ato iniciado no Teatro Municipal havia transcorrido
sem problemas até seu encerramento no Masp, quando os manifestantes que
retornavam para suas casas encontraram as estações de metrô da Avenida
Paulista fechadas, elevando desnecessariamente o nível de tensão entre
manifestantes e metroviários. Na estação Consolação, depois que ela
finalmente foi reaberta para o público, alguns manifestantes tentaram
pular a catraca e chocaram-se com o corpo de segurança do Metrô. O que
se seguiu foi uma ação equivocada, reconhecida como tática “Black
Block”, de um setor minoritário dos manifestantes, canalizando sua
revolta contra os agentes da segurança do Metrô e trabalhadores
terceirizados, que em nenhum momento atuaram para reprimi-los, e estavam
sendo expostos de maneira irresponsável pela Empresa, principalmente
quando ocorreu a truculenta ação da tropa de choque da PM colocando
todos ali presentes em risco.
Certamente a responsabilidade dessa situação recai sobre a direção do
Metrô, descumprindo diversas orientações aprovadas nas Cipas da empresa
e que respaldam o trabalhador a não cumprir qualquer função que coloque
em risco sua integridade física desnecessariamente, descaracterizando o
principal caráter da segurança do Metrô que é de prevenir a integridade
física dos trabalhadores e da população. Alckmin disse durante a semana
que os protestos contra o aumento tinham um caráter “seletivo”, porém o
que vimos de “seletivo” na última quinta feira foram estações fechadas
para os manifestantes e mais uma vez a repressão da PM, jogando bombas
de gás dentro da estação, atitude bastante diferenciada que ocorreu na
época dos atos da direita, onde a catraca foi liberada pela empresa a
mando do Governo, fato que foi denunciado aqui e em diversos lugares,
justamente sob a alegação de evitar tumultos e garantir a integridade
dos funcionários.
Essa escolha do Metrô e do Governo do Estado não é gratuita pois
Alckmin quer separar os metroviários da luta contra a tarifa e, ao
fomentar situações de confronto como a de ontem, consegue gerar
inimizade e desconfiança entre metroviários, manifestantes e uma
crescente parcela da população que identifica os trabalhadores do Metrô
com as forças repressivas do estado, afastando a possibilidade de união
dessa poderosa categoria com outras lutas sociais. Atitudes corretas
como a participação do Sindicato dos Metroviários na organização dos
atos contra o aumento também são dificultadas por situações como essa,
diminuindo a voz da categoria como um todo na sociedade.
A irresponsabilidade da Direção do Metrô, a mando do Governador
Alckmin, é tamanha que até mesmo a privatizada Linha 4-Amarela, na
dispersão do ato que iniciou-se no Largo da Batata e terminou no metrô
Butantã não quis danos ao seu patrimônio e liberou a passagem gratuita
aos manifestantes, como se pode ver neste vídeo,
também com o objetivo de aproveitar para mostrar uma ação diferenciada
do sistema estatal. O Metrô de São Paulo insiste nas orientações de
enfrentamento com os manifestantes apenas para causar a discórdia e
impedir a unidade dos metroviários com a luta contra o aumento, unidade
que teria força para derrotar o governo Alckmin e criar um obstáculo
maior para seu plano de privatizar o Metrô, como é o caso da ameaçada
Linha 5 Lilás.
Contra os protestos, CUT e CTB fazem o jogo da direita!
Em sintonia com o interesse de de seus respectivos partidos, que
compõe o governo de Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo, e o
governo federal de Dilma, CUT e CTB têm atuado fortemente entre os
metroviários para criminalizar o movimento contra o aumento e criar a
cisão deste com a categoria, inclusive fazendo coro com um discurso de
direita visto nos principais meios de comunicação da imprensa oficial.
Esse setor raivoso defende a repressão como método de lidar com qualquer
problema com a população, o endurecimento do corpo de segurança com
tasers, armas e ações ostensivas e a criminalização de qualquer
movimento social, dentro da mais tacanha lógica corporativista, através
da ideia que "não podemos nos meter nos problemas dos outros".
As centrais governistas se apoiam nesse na esperança talvez de
conseguir uma nova base para atuar na categoria e que reverta o quadro
de lenta e contínua decadência da sua influência entre os metroviários.
Dessa forma, vão repetindo o script que vimos o PT e o PCdoB seguirem em
diversos lugares, onde alimentam um setor conservador na defesa de seus
interesses mais imediatos e criam futuros adversários, como fizeram no
governo federal ao apoiar-se nas bancadas ruralista e evangélicas para
governar e depois passou a chama-los de "onda conservadora" quando estes
começaram a defender seus próprios interesses.
A CUT e a CTB aproveitam-se oportunisticamente do legítimo medo que a
maior parte dos metroviários sente de se ver em uma situação de
conflito como a que ocorreu ontem e jogam esse sentimento contra a
população e os manifestantes para proteger os interesses dos seus
partidos e das empresas de ônibus ansiosas por aumentarem ainda mais
seus lucros convenientemente protegidos pelo prefeito que dizem ser
"progressista".
O que fazer para superar a distância que existe entre metroviários e a população?
Não concordamos com as atitudes de alguns dos manifestantes que
atacaram os metroviários de forma irresponsável, ameaçando a integridade
física dos funcionários e dos outros usuários e fornecendo o
“espantalho” que o Metrô e a mídia precisam para afastar os metroviários
da luta. Assim como já foi feito diversas vezes em eventos e protestos
que envolvem um número grande de manifestantes em espaços pequenos como
das Estações, e assim como ocorreu no mesmo dia na Linha 4-Amarela, o
que deveria ter sido feito para preservar a integridade física dos
trabalhadores seria a liberação de catraca, porém essa ação por parte da
empresa está provada que só será feita por ela quando convir com os
interesses “seletivos” do Governador.
Chamamos o Sindicato dos Metroviários a ter maior protagonismo nessa
luta e, junto a cipistas, delegados sindicais e ativistas da categoria,
coordene a dispersão dos atos, acompanhando a entrada nas estações de
Metrô, evitando o confronto entre manifestantes e trabalhadores, e
lutando pela aliança dos metroviários com a população. Também já passou
da hora de o Sindicato fazer uma ampla campanha para que os
metroviários, principalmente os Agentes da Segurança que são os mais
expostos, não atuem em protestos e manifestações, os respaldando através
das resoluções das CIPAS em caso de risco, combatendo o assédio das
chefias e conscientizando acerca da necessidade de aliança com os
setores populares em luta. É necessário utilizar a mídia do sindicato
para isso, para além da indispensável presença mais constante nas bases,
lançando matérias no Plataforma, em Bilhetes, no site e até mesmo uma
cartilha de prevenção de conflitos. A partir disso, estaremos
construindo uma forte base dentro e fora da categoria, para que possamos
seguir o exemplo de metroviários da Argentina, que em suas lutas, e
quando há lutas do conjunto da população, sempre são protagonistas em
liberar as catracas, para fortalecer ainda mais as mobilizações contra
os ataques dos governos e patrões.
Fonte da Notícia: Esquerda Diário
Imagem de Glauco Araújo
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