Lotação na Linha 4-Amarela do Metrô |
O acúmulo de atrasos na entrega de novas linhas e estações e a
consequente superlotação do sistema de trens e metrôs de São Paulo fazem
do uso do transporte sobre trilhos um vale-tudo.
Em dez anos, enquanto a extensão da rede do metrô cresceu 36%, o número de usuários subiu 92%.
Para
enfrentar plataformas, vagões e conexões apinhadas de gente nos
horários de pico, os usuários criaram uma série de estratégias –muitas
vezes, no mínimo questionáveis– para as viagens ficarem menos longas e
espremidas.
Vale até apostar corrida antes da abertura das portas
para não ficar preso na multidão, como faz todos os dias o estudante
Higor Ferraz, 18.
Uso a Linha 4-Amarela e, quando o trem está
chegando na Estação da Luz, eu já vou para a porta do vagão. Se você não
corre, fica um monte de gente na escada e me dá agonia. Gosto de chegar
primeiro para pegar um bom lugar na CPTM, diz.
Blogueiros
Vale calcular qual vagão para exatamente em frente à escada de saída ou de conexão que se quer fazer.
A
tática, de tão corriqueira, ganhou até uma lista, compartilhada em
blogs e redes sociais, que promete mapear portas e vagões certos para
ganhar tempo.
Na Estação Sé, por exemplo, a mais movimentada de
todas as do metrô, quem chega pela linha 3-Vermelha, sentido Barra
Funda, e quer ir para o sentido Tucuruvi da Linha 1-Azul procura ficar na
última porta do penúltimo carro ou na primeira porta do último carro.
Aprendi com o tempo. Se não fico no vagão certo, perco mais de dez minutos, conta Gabriel Ferreira, 21.
Há
também quem se arrisque a fazer uma manobra proibida e muito perigosa:
saltar da plataforma para o trem, ainda em movimento, grudando na porta
para ser o primeiro a entrar.
Tem que dar uma de Homem-Aranha pra
conseguir sentar. Não deveria ser assim, mas cada um dá seu jeito. Ficar
de pé por 40 minutos depois do serviço é dureza, diz Leonardo Oliveira,
31. Ele é um dos passageiros que adotam a prática na estação Brás da Linha 12-Safira da CPTM.
O objetivo é garantir um lugar sentado.
Lógica
No vale-tudo, vale ainda o que parece pouco lógico: pegar o metrô no sentido contrário ao de casa.
A
chamada viagem negativa é usada por passageiros que preferem perder
tempo em um trajeto extra até mais uma estação para obter um assento
vago na composição vazia e viajar sentado.
É o caso das atendentes
Alexandra Lúcia Silva, 37, e Andréa de Queirós, 33, que trabalham de pé
o dia inteiro numa lanchonete e preferem fazer uma viagem ao terminal
Barra Funda para encarar o trajeto de volta até Artur Alvim sentadas.
Não
ligamos para o tempo, não. Queremos é ir sentadas, diz Alexandra. De pé
é um empurra-empurra danado. Uma cotovelada aqui, um pisão no pé ali. O
trecho é longo, isso quando não dá pane. Sentada, fica suave, completa
Andrea.
Há ainda quem burle o fluxo de entradas e saídas indicado
nas placas e utilize as plataformas centrais nas conexões, entrando no
vagão pela porta por onde todo mundo sai. Faz tanto tempo que faço que
isso que já é automático. No horário de pico, só consigo embarcar desse
lado, conta a estudante Chimene Araújo, 30, que adota a prática na Barra
Funda.
Em nota, a Secretaria Estadual dos Transportes
Metropolitanos diz que a rede tem normas de uso para garantir a
segurança dos passageiros e que eles devem atentar-se às regras de boa
convivência para deslocarem-se com segurança dentro e fora dos trens.
Fonte da Notícia: Revista Ferroviária
Imagem: Blog Ponto de Ônibus
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