Obras da Linha 15-Prata na Av. Anhaia Mello |
Anunciado há seis anos pelo Metrô de São Paulo como uma solução para
garantir a expansão da rede de transporte na região metropolitana, o
monotrilho coleciona falhas e atrasos e está mais caro do que o
previsto, o que, segundo especialistas, coloca em xeque o modelo
implementado de forma pioneira no País. A empresa defende a adoção do
sistema e aponta questões pontuais para os problemas.
Dos 38,6 km
de linhas prometidos até 2015, apenas 7,5% foram concluídos. A
construção de metade das 36 estações previstas nas Linhas 15-Prata
(Ipiranga-Cidade Tiradentes) e 17-Ouro (Morumbi-Congonhas), que já
deveriam ter sido entregues, está congelada. E as obras da futura Linha
18-Bronze (Tamanduateí-São Bernardo do Campo) não têm mais prazo para
começar, mais de um ano após a assinatura do contrato.
Na Linha
15-Prata, com trecho de 2,9 km em operação, os trens ainda não cumprem
regras do edital de licitação, como a velocidade máxima exigida. O
Estado exigiu que os trens circulassem a 80 km/h – velocidade que
técnicos consideram fundamental para que o intervalo projetado entre as
composições fosse cumprido – e, assim, atender à demanda de 48 mil
pessoas por hora. Usando um aplicativo de monitoramento de trajetos, a
reportagem fez dez testes e constatou que a velocidade máxima era de 67
km/h.
Com metade da obra travada por atrasos nas desapropriações,
o Metrô revê até o número de trens que a linha terá. A compra feita
para a linha foi de 54 trens. Mas a companhia admite que não terá lugar
para guardar 20 deles, uma vez que não há previsão para a construção do
Pátio Ragueb Chohfi, em São Mateus, na zona leste, fora do chamado
“trecho prioritário” – parte da obra prometida até 2018.
Na Linha
Prata há ainda a elevação de custo em até 105% em relação à primeira
promessa da obra. Ela era orçada em R$ 3,5 bilhões (valores corrigidos
pela inflação) em 2010, segundo informações divulgadas pelo governo à
época. Mas deve custar cerca de R$ 7,2 bilhões. Para efeito de
comparação, a Linha 6-Laranja (São Joaquim-Brasilândia), que terá 15,9
km de metrô convencional, deve custar R$ 9,6 bilhões – e tem o dobro da
capacidade de transporte.
Na Linha 17-Ouro, travada por atrasos
nas desapropriações no Morumbi, zona sul, nenhum trem da linha –
prometida para a Copa – está em testes.
Mais incerta de todas, a
Linha 18-Bronze teve o atraso oficializado há um mês, quando o Metrô
publicou informe postergando o início da obra por um prazo de seis meses
a até dois anos. Em agosto de 2014, durante a campanha eleitoral, o
governador Geraldo Alckmin (PSDB) havia afirmado que a obra começaria
“imediatamente. ” Agora, o governo diz que não recebeu recursos
esperados da União.
Perda. Os atrasos fazem especialistas
questionarem o modelo. “Na medida em que o monotrilho demora tanto
quanto o metrô para ser implementado e os custos por quilômetro se
aproximam, esse modelo passa a perder o atrativo. As Linhas 15-Prata e 17-Ouro
estão encaminhadas, seria um prejuízo enorme voltar atrás. Mas a Linha
18-Bronze, que nem sequer começou, é o caso de reavaliar se é a solução mais
adequada. Fizemos uma aposta cara e temos de avaliar se vale a pena”,
diz Jaime Waismann, consultor em Engenharia de Transportes e
ex-professor da Universidade de São Paulo (USP).
O presidente da
Associação de Engenheiros e Arquitetos do Metrô, Emiliano Stanislau
Affonso Neto, defende o modelo. “É uma solução para atender a uma
demanda de média capacidade. ” Mas faz ressalvas. “O Estado decidiu
fazer muitas linhas ao mesmo tempo. Mas manteve o mesmo número de
técnicos supervisionando os trabalhos. Eles acharam que compensariam
buscando técnicos no mercado (terceirizados). Isso se mostrou um erro. ”
Ministério Público investiga “má qualidade” dos projetos
A
Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social do Ministério
Público Estadual abriu, nessa quarta-feira, 16, dois inquéritos civis
para apurar os “atrasos no projeto e sua má qualidade” nos monotrilhos
das Linhas 15-Prata e 17-Ouro. O Metrô foi intimado a prestar
esclarecimentos.
As investigações são desdobramentos dos
depoimentos de um funcionário do Metrô, que foi ouvido pelo promotor
Marcelo Milani por causa de outra investigação relacionada à companhia.
As
informações colhidas motivaram o promotor a abrir inquéritos em
separado, segundo informa portaria de instauração de inquérito da Linha
15-Prata.
Sobre esta linha, entre as suspeitas apontadas pelo promotor,
está o fato de que o atraso pode estar relacionado a restrições do
projeto “e do respectivo processo licitatório”.
Já sobre a Linha
17-Ouro, a portaria do inquérito afirma que as empresas responsáveis
pela construção dos trens, a MPE, brasileira, e a Scomi, da Malásia,
estariam, respectivamente, “em situação pré-falimentar” e “com
dificuldades técnicas para entregar o que vendeu ao Metrô”. A reportagem
procurou o grupo, e a resposta foi que o cliente – o Metrô – é que
responde pela obra. No caso da Linha 17-Ouro, a empresa também tem prazo de
30 dias para se manifestar.
Fonte da Notícia: Revista Ferroviária
Créditos da Imagem Reservados ao Autor
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