Obras da Linha 17-Ouro na Zona Sul de SP |
A administração do Cemitério do Morumby, na zona
sul da capital, tenta na Justiça alterar o traçado do monotrilho da
Linha 17-Ouro do Metrô. O projeto da via elevada de trens prevê a
desapropriação de uma área onde, segundo os gestores do local, há 15
jazigos ocupados. Para barrar as obras e evitar futuros inconvenientes
aos visitantes, o cemitério entrou com uma ação contra o Metrô. A obra
terá 18 estações e atenderá 400 mil passageiros.
A
empresa estatal alega que a área a ser desapropriada é parte "não
edificável" do terreno. O objetivo do Metrô, que em novembro iniciou o
processo desapropriatório, é obter 7,2 mil metros quadrados do local,
inaugurado em 1971. De acordo com o projeto, uma faixa de 30 metros de
largura do cemitério é "área necessária" para as obras.
Haverá
intervenções em três quadras de jazigos. Pelo projeto do Metrô, uma
parte da Quadra 1 de sepulcros passará por desapropriação. "Vários
jazigos seriam afetados, já com sepultamentos. As famílias também teriam
o direito de recorrer, porque essa transferência (de restos mortais)
depende de autorização das famílias", diz o advogado Rui Celso Reali
Fragoso, que representa a Comunidade Religiosa João XXIII, que gerencia o
cemitério, onde estão enterradas personalidades como Elis Regina e
Ayrton Senna.
"Tem
gente sepultada lá desde 1975. Dá uns 15 jazigos, mais ou menos", diz o
gerente administrativo do cemitério, Francisco Cláudio Raváglia de
Mattos.
Lotes vazios
Por
sua vez, as Quadras 1A e 22 ainda não têm túmulos ocupados. No caso da
última, a comercialização dos espaços estava prevista para ter início em 2015 A Quadra 22 tem cerca de 4,5 mil lotes para jazigos e a
1A, um total de 1.166. Na sobreposição dos mapas do projeto do Metrô e
do plano de sepulturas do cemitério, a reportagem constatou que algumas
valas não usadas poderiam ser suprimidas.
Na
Quadra 22, um túmulo sai por R$ 18,9 mil. Já na 1A, o jazigo está
cotado em R$ 27 mil. Segundo Fragoso, o Metrô sugere, em juízo, o
pagamento de R$ 1,7 milhão pela desapropriação.
A
administração do cemitério pretende que a desapropriação seja extinta,
porque enxerga "ilegalidade" na intenção do Estado. "Se o Metrô tivesse
interesse, poderia fazer o projeto subterrâneo, ou paralelo ao
cemitério. O aumento do custo não é justificativa para desobedecer a
princípios elementares, como o respeito aos mortos", diz Mattos.
Paraisópolis
Moradores
do entorno protestam contra novas mudanças, temendo que elas atrasem
ainda mais uma obra que vem sendo discutida desde 2008 - a inauguração
do primeiro trecho era prevista para este ano e foi adiada para 2016. "É
necessário o monotrilho passar aqui. Para irmos ao centro da cidade,
hoje levamos duas horas só de ida", diz Gilson Rodrigues, presidente da
União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis.
"A
mudança do traçado inviabiliza o projeto, que já foi altamente debatido
em audiências. Esse projeto é a consolidação de muitas opiniões, até
mesmo contrárias. Nossa região não pode ficar sem ele", afirma o líder
comunitário. Rodrigues teme que, se a Justiça acatar o pedido do
cemitério, a obra, orçada em R$ 3,2 Bilhões, atrase ainda mais. "Estava
prevista para a Copa", lembra.
Inviabilidade
Em
resposta enviada no mês passado por e-mail à administração do cemitério
e anexada ao processo, o gerente de Concepções de Projetos Básicos
Civis do Metrô, Caio Luiz de Arruda Botelho, escreveu que a companhia
analisou a opção de traçado sugerida pelo cemitério e "concluiu que não
há viabilidade técnica para atendimento da proposta".
O
Metrô informou à reportagem, por meio de nota, que "não está prevista a
desapropriação de nenhum jazigo" do Cemitério do Morumby. A empresa não
informou quando as obras devem começar no local.
A
construção do primeiro trecho da linha foi iniciada em 2012. O ramal
vai ligar a região do Aeroporto de Congonhas e a Estação Morumbi, na
Linha 9-Esmeralda da CPTM. O
segundo trecho (até a Estação São Paulo-Morumbi, da Linha 4-Amarela) e o
terceiro (até a Estação Jabaquara, na Linha 1-Azul) ainda não saíram do
papel. O Cemitério do Morumby está inserido no segundo trecho da obra,
que terá 6,5 km e cinco estações. A linha inteira terá 17,7 km.
Em Junho de 2014, a queda de uma viga da obra na Avenida Washington Luís matou um operário.
Fonte da Notícia: Estadão
Imagem: Metrô
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