Metroviários receberam com incredulidade o que consideram “mais uma
mentira” contada pela direção do Metrô de São Paulo para fugir da
responsabilidade pelo caos que tomou conta da Linha 3-Vermelha semana passada. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a empresa
agora afirma que a origem dos problemas que então paralisaram parte do
sistema por cinco horas foi o acionamento de um “botão secreto” na
plataforma da estação Marechal Deodoro, no centro da cidade.
A companhia se refere a um prisma que fica localizado nas extremidades
das plataformas, conhecido pelo nome técnico de SPAP, sigla para Sistema
de Proteção de Acidentes na Plataforma. Em geral, trazem a inscrição
“Emergência”. Quando pressionado, o dispositivo desenergiza os trilhos
em três estações: onde foi acionado e nas duas adjacentes. O Metrô
afirma que apenas funcionários sabem de sua existência. No entanto,
qualquer usuário pode vê-los sem grandes esforços, pois não ficam
escondidos. Normalmente, são acompanhados por um intercomunicador. E
protegidos por uma estrutura transparente de acrílico.
“O nome 'botão secreto' é engraçado. Não existe botão secreto. Estão
sinalizados com a inscrição 'de Emergência'. É para que os funcionários,
ao sentirem uma situação insegura na via, pressionem o botão para
desenergizar a via. Usuário pode acionar? Pode. Mas não é feita para o
usuário. É para o funcionário”, explica àRBA o presidente do Sindicato
dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior. “Esses
botões se localizam em lugares visíveis para facilitar o acionamento,
não para dificultar. Em cada plataforma há dois, uma em cada ponta. Há
estações que também há botões no meio. Apenas na Sé, existem doze.”
De acordo com o Metrô, três “botões secretos” foram acionados no dia 4
de fevereiro. Primeiro, às 19h36, na estação Marechal Deodoro – o que
teria desenergizado as estações Santa Cecília e Palmeiras-Barra Funda.
Depois, às 19h41, no Anhangabaú, paralisando Sé e República. Finalmente,
às 19h55, na Santa Cecília, com reflexos na Marechal Deodoro e na
República. À Folha, a companhia atesta que esses acionamentos, feitos
todos eles por usuários, possibilitaram que pessoas circulassem nos
trilhos, paralisando o sistema.
Registros oficiais do próprio Metrô obtidos pela RBA demonstram, porém,
que já havia ocorrências de usuários caminhando pelas passagens de
emergência entre as estações Santa Cecília e Marechal Deodoro às 19h –
ou seja, 36 minutos antes de o primeiro “botão secreto” ter sido
acionado e 42 minutos depois da primeira pane na porta do K07, trem da
frota K que desencadeou o caos. Às 19h12, metroviários também já haviam
notificado o Centro de Controle Operacional (CCO) sobre passageiros
caminhando pelos túneis no Anhangabaú. Antes de o primeiro SPAP ser
acionado, os passageiros já haviam sentido a necessidade de deixar os
vagões.
Além disso, metroviários afirmam que apenas a primeira desenergização,
ocorrida às 19h36, na estação Marechal Deodoro, foi realmente provocada
por usuários. E os registros oficiais da empresa mostram que, por esse
motivo, a corrente elétrica tardou apenas três minutos para ser
restabelecida – o que ocorreu às 19h39. A segunda desenergização –
iniciada às 19h41, no Anhangabaú – foi desencadeada por metroviários. E
demorou bem mais tempo para ser normalizada: 28 minutos. Isso porque
havia usuários caminhando pelos trilhos, como também mostram relatórios
da empresa.
Apesar de não aprovarem o acionamento do SPAP em qualquer situação,
funcionários ouvidos pela reportagem compreendem os motivos que levaram
um passageiro a apertar o botão na última terça-feira (4). “No meio de
um caos, onde os usuários já aguentavam calor e muvuca por quase uma
hora, alguém vê um equipamento gigante, bem destacado pela cor, com a
palavra Emergência. Com certeza, qualquer um acionaria o botão
imaginando que estaria ajudando”, diz um metroviário, que prefere não se
identificar com medo de represálias. “A companhia está procurando quem
divulgou relatórios internos que demonstram as mentiras que contaram.”
O presidente do sindicato afirma que a fábula do “botão secreto” é
apenas mais uma tentativa da empresa para desviar o foco do problema.
“Em vez de reconhecê-lo, estão querendo achar bodes expiatórios”,
explica, comentando a gravidade da situação. “O sistema é superlotado e
certamente causará mais transtornos. Já havíamos avisado. Pode ocorrer
novos problemas a qualquer momento. Qualquer falha no trem provoca
reflexos e acumula problemas, redundando no caos que vimos semana
passada.”
Altino de Melo Prazeres aponta o que considera “grandes problemas” do
Metrô. O principal deles, conta, é a “reforma malfeita de trens,
apressada e superfaturada”. O sindicalista se refere à frota K,
recordista de falhas, que vêm sendo relatadas pela RBA há seis meses.
“Os defeitos são reais, não são invenção.” Em segundo lugar, Altino
lembra que o Metrô é muito pequeno para o tamanho da cidade. “É como um
adulto usar roupas de criança. Se esticar a perna, rasga.”
Finalmente, o presidente do Sindicato dos Metroviários aponta para o
desmonte da empresa depois de 20 anos de governos do PSDB no estado de
São Paulo. “Há poucos funcionários para atender a um grande número de
usuários”, lembra. “Hoje temos 4,6 milhões de passageiros diários. Em
1991, eram mais ou menos 10 mil funcionários para 1,5 milhão de
passageiros. Hoje temos 9,6 mil funcionários para atender três vezes
mais gente. É uma bomba relógio.”
Fonte da Notícia: Folha Press
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