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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Até onde o conservadorismo do Metrô pode ir?


Não podemos separar o sistema do Metrô (plataformas, estações e composições) dos seus usuários. Um precisa do outro. ”Se não houvesse usuários, o sistema seria perfeito e sem atrasos”, dizem os gerentes de operação do Metrô de São Paulo. Mas transferir a culpa para o usuário dos problemas que o Metrô vem enfrentando é muito mais fácil do que assumir a responsabilidade de mudar algo importante que vem atrapalhando (e muito!) o cotidiano do paulistano: a falta de noção e de educação da coletividade. Falta de educação esta que chega a gerar problemas na operação, pois algumas ações dos usuários podem causar danos às portas e outros materiais de plataformas e trens.

Em um país onde a educação é vista como supérflua e quase desnecessária, grande parte da população confunde educação (aquela que pai e mãe deveriam nos dar) com instrução (aquela que deveríamos aprender na escola) e fica mais fácil entender a guerra que os usuários de transporte público, seja no metrô, trem ou ônibus travam diariamente. E isso não é acontece somente em São Paulo, visto as campanhas agressivas feitas pelo Metrô de Sidney (Austrália) com o vídeo do Youtube: “Dumb ways to die”.

Dito isso, nos colocamos a pensar: de quem é a responsabilidade de educar, orientar e manter a segurança e a paz nas estações e dentro dos carros do metrô? É do Metrô, claro. Assim como é de inteira responsabilidade da CPTM fazer o mesmo com os usuários que usam o trem. E ambas as companhias estão fazendo isso? NÃO. Pelo menos, não da forma que o usuário compreenda, aceite e faça o seu papel.

Nos últimos dois anos, o Metrô de SP não possui campanhas realmente efetivas de cidadania. As que existem e que são mantidas parecem piadas perante a falta de alcance de comunicação que possuem. E por quê? A linguagem da população mudou. Mas não mudou o conservadorismo da Cia do Metropolitano de São Paulo em aderir, se adequar e principalmente, reformular tais campanhas. E já passou do tempo da gerência de Marketing do Metrô rever isso. A cada dia que passa mais fotos pipocam na internet com amostras de cada vez mais comportamentos inadequados em trens e plataformas. Mas o Metrô já deu um passo importantíssimo para se atualizar: a Fan Page do Facebook e o perfil do Twitter funcionam com um SAC onde respostas são dadas em tempo real. Principalmente no microblog Twitter, o perfil do Metrô tem um trabalho fenomenal de divulgar informações, criar vínculo e mostrar curiosidades do sistema. O único ponto falho neste trabalho é que o perfil tem um expediente menor que a operação do Metrô. Mas mesmo assim, tal trabalho feito pela Companhia é louvável.

Ainda falando sobre as redes sociais, a CPTM optou em parecer que é intocável. Suas respostas no Twitter parecem “comandos de informática”, já que parecem copiadas e coladas automaticamente por um robô. Perguntas mais específicas tais como: “quando as obras da estação Barra Funda ficaram prontas?”, por exemplo, recebem respostas evasivas e sem qualquer comprometimento com metas e prazos. A diferença na Internet entre as companhias é gritante. Assim como é gritante a diferença fora das redes sociais. Os esforços que a CPTM teve em criar suas novas campanhas recentes de cidadania sobre o uso do fone de ouvido e da melhor forma do embarque e desembarque dentre outras foram louváveis, pena que os cartazes terem durado poucos meses nas estações.

Mas o que falta REALMENTE para que Metrô e CPTM façam campanhas que fiquem na cabeça das pessoas que sejam realmente transformadoras de hábitos e comportamentos?

Falta criatividade, falta coragem de assumir os problemas atuais que foram deixados por gestões anteriores e que resultaram neste “zoológico sem educação atual” e também claro, assumir que a gestão tem uma visão conservadora, antiquada e que está totalmente inadequada ao que acontece atualmente. Segundo fontes internas do Metrô, além da mídia ser um fator importante em qual “tom” o Metrô vai tomar como direção, a empresa representa o governo do estado, órgão este que usa a Companhia do Metropolitano como instrumento político em busca de votos. E toda esta engrenagem suja atrapalha a quem mais precisa de educação, civilidade e por que não, conforto: o usuário. Até por que sem o usuário não há receita nos cofres públicos e principalmente, não há votos para este ou aquele político.

Mas mesmo assim, como melhorar o conteúdo das campanhas para que estas ajudem a modificar hábitos e comportamentos? Como exemplo, é fato que o usuário que utiliza a Linha 9 – Esmeralda da CPTM quando entra na Linha 4 – Amarela muda de comportamento e atitude. Assim como quando o usuário que sai da Linha 3 – Vermelha e vai para a Linha 4 – Amarela ou mesmo para a Linha 2 – Verde. E por quê? Fatores sociais podem explicar isso minuciosamente, mas de forma geral o que o usuário pensa é: esta linha (seja ela qual for) eu posso fazer o que eu quero, não há segurança ou disciplina, “ninguém manda em mim”.

E infelizmente, é o que vemos no cotidiano. Nas linhas 1, 2, 3 e 5 do Metrô o corpo de segurança não passa mais a imagem de superioridade, seja por que muitos dos seguranças já são mais velhos (e isso não é preconceito, por favor) ou porque os mesmos não cumprem com as funções de bancarem os “pais” destes usuários que parecem “filhos” sem limite. Ao que parece, a Cia do Metropolitano de São Paulo tem mais medo dos processos que os usuários podem criar contra eles por conta das ações dos seguranças do que realmente criar campanhas mais sérias e capacitar seus seguranças a atenderem melhor as novas demandas da falta de comportamento adequado em trens e plataformas.
É importante pensar que o momento de mudar estes hábitos já passou, pois, como por exemplo, usuário que corta unha dentro de carro do Metrô, usuário que senta no chão e usuário que acha que o Metrô é um quarto de motel já existem aos montes, basta procurar em redes sociais as fotos que outros usuários mostram tais comportamentos inadequados.

E como mudar este panorama? Criando campanhas talvez não tão agressivas como as da RATP, mas em um tom que ajudará a todos a entenderem como devem se comportar em um ambiente que é público, de uso de todos e para todos. Segundo fontes da própria Cia: não queremos “encher o saco” do usuário com tantas mensagens de cidadania. Pense o seguinte: para que um produto seja vendido, quantas vezes vemos o mesmo anúncio até que nos interessamos em comprar o mesmo? As campanhas de cidadania funcionam da mesma forma, pois se elas não forem popularizadas, tais como “jingles” de comerciais, como o usuário vai entender e mudar o próprio hábito e atitude?

As gerências de marketing das companhias precisam entender que criatividade é a alma do negócio e que o negócio anda bem feio no dia-a-dia do usuário do transporte de massa da cidade de São Paulo. E inovar não dói.

Fonte da Notícia: Via Trolébus 

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