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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Técnico do Metrô toca cuíca em Escola de Samba em São Paulo e sonha ser produtor

Desde 2014 na Mocidade, ele resgatou as aulas de cuíca aos sábados, na escolinha de música da agremiação (Foto: Victor Moriyama/G1)
Funcionário do Metrô toca cuíca na Mocidade Alegre (SP)
De Junho até o Carnaval, o técnico Marcos Martins dos Santos, de 45 anos, divide suas noites entre os ensaios na quadra da escola Mocidade Alegre e os túneis do sistema metroviário de São Paulo. Após as 22h, ele troca a camisa da agremiação e a cuíca pelo uniforme do Metrô e a lanterna.

Com 17 anos de empresa, e quase uma década na função de técnico, o paulistano da Zona Norte da cidade é um dos responsáveis por inspecionar trechos das vias subterrâneas e equipamentos metroviários. "O serviço que eu faço é vital para o bom funcionamento do sistema. Só quando a via está sem energia que a gente entra para inspecionar", explica.

Na Mocidade desde 2013, é ritmista da bateria e resgatou as aulas de cuíca, à época paralisadas por falta de professor, na escolinha de música da agremiação. Com o trabalho, quer renovar a ala de cuiqueiros, uma das mais difíceis de seduzir novatos não apenas pela complexidade do instrumento.

“A cuíca é o instrumento mais melódico da bateria. É mais da velha guarda, você não vê molecadinha tocando. E é um instrumento que a escola não fornece. Você tem que comprar e fazer a manutenção do próprio bolso", comenta.

Mal sabem que é orbitando neles que as musas do carnaval gostam de gastar o requebrado. Casado há 28 anos, Marcos revela que sua mulher ainda sente um certo desconforto com tal comportamento das beldades.

"Ela tem um pouco de ciúmes. A cuíca é a ala da bateria que sai na frente. É onde tem nossa rainha de bateria, as passistas gostam muito do som, quando tocamos para as passistas, a gente abaixa no chão para elas sambarem. Mas ela viu que não tem mais jeito. E eu sou desencanado, eu gosto mesmo é de fazer um som." 

A cuíca foi um dos últimos instrumentos que o técnico aprendeu a tocar, e o único que recorreu à ajuda de um professor (por dois meses, apenas). Autodidata, aos 16 anos, ele começou tocando repique de mão inspirado em um dos fundadores do grupo Fundo de Quintal. “Sempre tentei copiar os movimentos e a batida que o Ubirany fazia”, explica.

Fã de samba e pagode, ainda adolescente ele encarou pandeiro, surdo, tantan e tamborim. Em 1987, Marcos e o irmão mais velho se juntaram com mais três amigos do bairro e fundaram o grupo Cabeça Feita.

Quando o grupo do Imirim começou a conquistar espaço com canções autorais, Marcos já trabalhava no Metrô. Ficou três anos na dupla função, até que em 1994 decidiu sair para investir na carreira musical. O período era favorável: os contratos de shows cresciam, e passou a ficar impossível conciliar dois trabalhos noturnos.

Gravaram discos e peitaram o auge do gênero no Brasil, disputando fãs com Katinguelê, Sem Compromisso e Exaltasamba – bandas que também emergiam no cenário. Dois anos depois, porém, a procura começou a minguar.  “A gente viajava, estava legal. Mas foi uma época muito concorrida. Em 1996 eu abandonei o sonho de viver do samba", relata.

Em 2002, decidiu pleitear uma vaga no Metrô novamente. Prestou concurso, foi aprovado em primeiro lugar e retornou à empresa de onde não pretende sair tão cedo. Embora satisfeito na função, trabalha para tentar viver de música futuramente. Desta vez, longe dos palcos.

“Minha ideia é conseguir aposentar no Metrô e estou tentando montar um estúdio em casa para trabalhar como produtor musical. Tem muitas pessoas de talento na noite sem oportunidade. Minha ideia é juntar essas pessoas e poder produzir com um custo que seja bom pra todo mundo e ver se consigo alavancar alguém.”

Fonte da Notícia: G1-SP
Imagem de Victor Moriyama

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