Obras da Futura Estação Brooklin (Linha 5-Lilás) |
O Governo do Estado gasta tempo, dinheiro, mobiliza especialistas em
mobilidade urbana e prefeituras de diversos partidos para criar planos
de expansão ao transporte sobre trilhos, mas, sem maiores explicações,
descarta o combinado e adota estratégias de última hora que comprometem o
futuro do metrô de São Paulo. Esta é a conclusão de uma tese de
mestrado defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP
pelo arquiteto Marcos Kiyoto.
Planos que integrariam a CPTM ao Metrô na última década não saíram do papel
Criada
em 1968, o Metrô de São Paulo coleciona planos de
expansão que foram abandonados ao longo do tempo. Inaugurada em 1974, a
Linha 1 – Azul, que ligou o norte ao sul da cidade, foi seguida pela
implantação da linha Leste-Oeste, batizada de 3 – Vermelha, quatro anos
depois.
A
empolgação com a malha que finalmente saia das pranchetas motivou um
estudo ainda em 1978 que estabelecia os trechos prioritários para o
futuro, e que previa até a construção da linha 4 – Amarela, inaugurada
só em 2010. Quatro anos depois e a ideia era descartada. "Na época
decretaram o abandono do plano e a adoção de uma rede de apenas quatro
linhas, todas mais curtas que as anteriores e curiosamente com o mesmo
desenho da malha de 1968", afirma Kiyoto.
Naquele
ano de 1982, um novo plano foi criado, mas logo substituído por outro,
de 1985. Ao se debruçar sobre cada projeto, o arquiteto se surpreendeu
ao perceber que as metas não eram cumpridas e as linhas acabavam
alteradas diversas vezes antes que algo fosse efetivamente implantado.
Quando alguma obra era executada, acabava mais tímida do que as
concepções. "A extensão da linha oeste até a Lapa, que nunca foi
realizada, esteve presente em todos os estudos a partir de 1975."
Sob
a justificativa de estagnação econômica, a construção de novas linhas
foi congelada no final dos anos oitenta, o que não impediu que o Metrô
encomendasse "amplos estudos” no início da década seguinte. O de 1990
tinha meta de uma década, mas foi abandonado antes que fosse publicado
em um artigo acadêmico por um de seus autores. No ano seguinte, um novo
plano esticou a meta para 2010, mas suas diretrizes só circularam
internamente antes do descarte. O único oficialmente publicado foi
desenvolvido em 1993, também com planos até 2010.
Movimentação intensa de passageiros na estação Saúde do metrô no horário de pico
O
estudo também não durou muito. No final daquela década, o governo criou
a Secretaria dos Transportes Metropolitanos, que em 1999 publicou
seu planejamento mais completo e importante até hoje: o Plano Integrado
de Transportes Urbanos 2020. Elaborado para integrar todo o
transporte na Região Metropolitana, foi considerado pelo estudioso "o
melhor esforço já feito" por contar com a contribuição de 30 dos 39
municípios da região.
Dentre
as três estratégias avaliadas, venceu a "Rede Aberta", que projetava
7,7 kms de linhas por milhão de habitantes, o dobro da proporção atual,
de 3,4 kms/milhão, e o triplo de 1999, então com 2,2 kms/milhão de
habitantes.
Após
a publicação do PITU 2020, cada companhia passou a desenvolver seus
projetos de acordo com as diretrizes. E foi então que o plano começou a
ruir. A CPTM, por exemplo, não trabalhou com a previsão de integrar sua
malha ao metrô, cujas conexões reorganizariam todo o fluxo. Os projetos
priorizaram a melhoria da qualidade e capacidade dos serviços que já
existiam na época.
A
proposta de integrar o trecho central também não foi implantada. Se
cumprido, o plano introduziria o menor intervalo entre os trens em toda a
malha, demonstrando atenção especial à região, a mais congestionada.
"As medidas tiveram caráter imediato; desconsiderava a rede futura que
havia sido proposta", afirma o arquiteto.
Em
2006, o PITU 2020 já estava engavetado. Naquele ano, o PITU 2025 foi
publicado pela secretaria sob a justificativa de revisão atualizada.
"São propostas completamente distintas", assegura Kiyoto, para quem a
meta do plano "é a mera manutenção das condições existentes", o que
significa que a média atual de 3,4 km por milhão de habitantes
permanecerá a mesma em 2025. "As mudanças de rumo são sempre defendidas
como ‘adaptações’ a partir de novos dados e de um 'processo contínuo de
planejamento', argumento que não se sustenta."
Propaganda?
Em
meio a implantação do novo PITU, o governo do Estado começou a divulgar
outro, chamado "Plano de Expansão", em vigor entre 2007 e 2011, mas que
acabou descartado sem nenhum substituto. De acordo com a tese, esse
plano foi "amplamente divulgado em material publicitário de rádio e TV",
onde prometiam "quadruplicar as linhas de trem com qualidade de metrô"
Embora
essa época se caracterize pelo fim de uma fase de planejamento e o
aumento da propaganda, cresce também os investimentos em trilhos em
razão da crise nos transportes. É quando, em 2009, o Estado lança o
monotrilho, inexistente nos PITUs 2020 e 2025. Desde então, seis linhas
foram anunciadas oficialmente, duas das quais abandonadas (M´boi Mirim e
Cachoeirinha-Lapa).
O
arquiteto lembra do “problema estético” dessa modalidade de transporte,
cuja estrutura de concreto se assemelha ao Minhocão (Elevado Presidente
Costa e Silva), mas afirma que o principal problema é que ele é
falsamente comparado ao metrô. “Ele vai transportar 45 mil pessoas por
hora, contra 60 mil do metrô.”
Ele
critica principalmente a linha Cidade Tiradentes, projetada para chegar
à Vila Prudente sem fazer nenhuma conexão em seu trajeto. Esse teria
sido o erro da Linha 3 - Vermelha, hoje superlotada. “As linhas precisam
fazer parte de uma rede, é para isso que os planos são desenvolvidos.
Quando uma linha que não se articula com outras significa que o plano
foi mal feito.”
O que diz a Secretaria dos Transportes Metropolitanos?
Em
resposta às questões do iG, a Secretaria encaminhou uma nota afirmando
que PITU é um processo permanente de planejamento, “cujas propostas
devem ser revisadas periodicamente para que esteja de acordo com as
mudanças de conjuntura.” O plano integraria as políticas de transporte e
uso do solo, possibilitando uma distribuição mais balanceada entre
empregos e habitações.
De
acordo com a STM, o plano é feito com base em estudos de demanda feitos
a cada 10 anos pelo Metrô. A respeito do monotrilho, a secretaria diz
ter levado em conta “seu custo mais baixo e o menor tempo de construção”
em relação ao metrô. “Em São Paulo, trata-se de um modal projetado para
receber uma alta demanda, com velocidade superior a dos ônibus, sem
sofrer interferências físicas, como cruzamentos de avenidas.”
A STM não respondeu ao ser questionada sobre os valores gastos para a formulação dos PITUs 2020 e 2025.
Fonte da Notícia: IG
Imagem: Metrô
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