Assédio sexual, roubos, furtos e até o caso de uma mulher que perdeu um
dos braços depois de empurrada nos trilhos. Nas últimas semanas, as
histórias de violência no Metrô de São Paulo disputam espaço na mídia
com as falhas cada vez mais frequentes no sistema e queixas sobre
superlotação.
Especialistas consultados pelo iG afirmam que esses três fenômenos estão
intimamente relacionados. As falhas aumentam a superlotação, criando o
ambiente perfeito para a prática de violência. Mais: as inúmeras falhas
nos trens reformados seriam a principal razão para a superlotação,
especialmente na Linha 3-Vermelha, que liga as zona leste e oeste.
“Onde há superlotação há crime, isso é um fato”, garante o coronel da PM
e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, José Vicente da
Silva. “Estimo que 2% das pessoas que frequentam grandes aglomerações
estão dispostas a praticar algum ato violento. O Metrô de São Paulo
transporta 1 bilhão de passageiros por ano, o que significa que 20
milhões de pessoas entram no sistema com a intenção de fazer algum mal.”
Carolina Zaine, de 28 anos, foi uma das vítimas. Há três semanas,
abriram sua mochila, retiram seu celular e tomaram o cuidado de fechar o
zíper. “Olha o grau de profissionalismo! Eu já tinha saído do Metrô.
Estava esperando meu namorado na catraca da estação Consolação”, diz.
Carolina não é exceção: dados da Secretaria de Segurança Pública apontam
um crescimento de 78% nos furtos e 90% nos roubos entre 2012 e 2013. Ao
todo, 330 pessoas foram roubadas e 6.134 pessoas foram furtadas dentro
do sistema de Metrô e trens da CPTM só no ano passado. Em janeiro deste ano, único
dado disponível até agora, houve aumento de 59% nos roubos e de 12% nos
furtos na comparação com o primeiro mês de 2013.
Para se ter uma ideia, o número de roubos fora do metrô em todo o Estado
cresceu 8% no mesmo período, enquanto os furtos cairam 0,5%. Foram
257.054 roubos e 542.88 furtos no ano passado.
Responsável por conduzir um dos trens da Llinha-3 Vermelha, a mais
saturada (com dez pessoas por metro quadrado), Tiago Ferreira atribui
parte da superlotação às falhas no sistema, cada vez mais frequentes.
Para ele, que também é diretor do Sindicato dos Metroviários, o maior
vilão são os trens antigos, que apresentariam mais falhas depois de
passarem pela reforma.
Entre 10 de outubro e 9 de novembro do ano passado, os condutores da
linha vermelha contaram quantas falhas ocorreram na frota K, a mais
problemática: “Foram 696 falhas”, contabiliza Ferreira, que explica.
“Essa frota era a antiga frota C, circulando há mais de 20 anos.”
Segundo o condutor, ao invés de reformar, as empresas contratadas pelo
Metrô para fazer o serviço dão apenas “um tapa” no visual. “É tudo
maquiagem. Claro, eles colocam ar-condicionado, mudam a pintura, trocam
bancos, mas por dentro quase nada muda.” Ele conta que até a alavanca
utilizada pelo condutor é mantida. “Ele não tiraram nem o mecanismo do
limpador, que nem se usa mais. Quem sofre são os funcionários da
manutenção.”
Ainda segundo dados do sindicato, as falhas são tantas que o Metrô
esconderia as verdadeiras estatísticas. A entidade garante que os trens
de São Paulo tiveram 133 falhas notáveis (com mais de seis minutos de
parada) no ano de 2013 e 119 ocorrências em 2012, volume 50% maior do
que o divulgado pelo Metrô.
Dessas falhas, 20 foram investigadas pela Copese, o que significa que colocaram em risco a segurança
dos passageiros. Professor de Ferrovias na Escola Politécnica da USP,
Telmo Porto explica que, ao contrário do metrô de cidades desenvolvidas,
o sistema de trens em São Paulo não é “fechado”. “Isso dificulta a
retirada de trens quando há falha, superlotando os vagões, o que aumenta
as chances de crime.”
Violência grave sofreu a relações públicas Sandra Cremonese, de 29 anos.
Após embarcar no terminal Vila Madalena para ir a um parque em plena
manhã de domingo, um homem entrou no vagão onde ela estava e, depois de
roubar seu celular, lhe acertou um soco no olho, que lhe rendeu
internação, seis pinos e uma placa de titânio. “Um dos ossos de desfez.
Passei por uma cirurgia de seis horas que custou R$ 25 mil”, se recorda.
“Quando pedi ajuda ao Metrô, eles me disseram que ninguém poderia me
socorrer. Já não sei se é mais seguro andar na rua ou no Metrô.”
À reportagem, o Metrô afirma que “todos os sistemas de trens do mundo
estão sujeitos a falhas e que elas são proporcionais ao número de
viagens realizadas, à quilometragem percorrida e à quantidade de
passageiros transportados”.
Segundo o Metrô, são transportados 4,6 milhões de passageiros
diariamente e os trens percorrem 74 mil km por dia e realizam 3 milhões
de ciclos de fechamento e abertura de portas por dia.
Em relação às frotas modernizadas, a companhia afirma que elas
“necessitam de um período de ajustes até que comecem a apresentar seu
melhor desempenho”. Sobre a frota K, o Metrô informou que ela “apresenta
desempenho semelhante às demais frotas novas ou modernizadas”.
Fonte da Notícia: Portal Ig
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