Na quarta-feira 12, o Centro de Controle Operacional do Metrô de São
Paulo registrou uma falha no sistema de fechamento de portas de um trem
que saía da estação Bresser-Mooca e tinha como destino a estação
Corinthians-Itaquera, ambas integrantes da Linha-3 Vermelha. O problema
impediu que o veículo seguisse viagem com as portas fechadas, colocando
em risco a segurança dos passageiros. No mesmo dia – e no mesmo trajeto –
houve um defeito no sistema de tração e o trem passou a operar no modo
manual, em que o limite de velocidade permitido é de 30 quilômetros por
hora. As duas falhas fizeram com que na estação Tatuapé o trem fosse
evacuado. A paralisação, que ocorreu por volta das 18 horas, durou 30
minutos, impediu a passagem de outras composições e gerou atrasos na
rede inteira. O trem que apresentou problema é conhecido como K-07, o
mesmo que descarrilou em agosto do ano passado. “O Metrô quer acobertar
essas situações, mas o K-07 é o único trem que opera com um supervisor
de maquinista”, diz um funcionário do Metrô paulista que não quis se
identificar. “Isso é um absurdo. É como se eles reconhecessem os perigos
que o K-07 oferece às pessoas.”
O K-07 é um dos dez trens que integram a chamada frota K, que está no
centro do caso de corrupção na área de transportes sobre trilhos
paulista nas gestões de José Serra e Geraldo Alckmin. Como ISTOÉ revelou
há dois anos, o Ministério Público investiga irregularidades nas
reformas das composições da frota K. Ao contrário do argumento do Metrô
de que os reparos seriam vantajosos por razões econômicas, constatou-se
que os veículos foram renovados a preços mais altos do que o de um trem
novo em folha. A modernização de 98 trens – incluindo os da frota K –
das Linhas Azul e Vermelha foi orçada em R$ 1,6 bilhão. A conta final,
porém, chegou a R$ 2,5 bilhões, o que representa um rombo de R$ 857
milhões aos cofres públicos. De acordo com a apuração do Ministério
Público de São Paulo, dos 98 trens que precisavam ser reformados,
somente 46 foram entregues. Hoje, restam 52 composições sem reforma, mas
que permanecem em circulação.
As falhas da frota K são o retrato pronto e acabado de como a corrupção é
nefasta. Poucas vezes foi possível comprovar uma relação tão direta
entre a malversação dos recursos públicos e os prejuízos causados às
pessoas. Agora, dois dossiês obtidos com exclusividade por ISTOÉ junto
ao Sindicato dos Metroviários revelam que, além de colocar em risco a
vida de operadores e usuários, o lote de trens reformados pelo consórcio
liderado pela Alston e investigado pelo Ministério Público causa um
prejuízo anual de R$ 168 milhões ao governo de São Paulo. De acordo com o
Sindicato dos Metroviários, os trens da temível frota K são obrigados a
parar para fazer manutenção com frequência maior do que outras linhas,
graças às recorrentes falhas. Isso gera danos aos usuários e perdas ao
Erário. O último dossiê produzido pelo Sindicato dos Metroviários, entre
outubro e novembro do ano passado, registrou 696 problemas somente
nesse período em sete trens que haviam sido reformados. Desses, mais de
300 falhas ocorreram no trem K-07.
O caso mais grave foi a pane que paralisou os trens da Linha-3 Vermelha
no dia 4 de fevereiro. De acordo com um relatório produzido pela
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), foram levantadas dez
anormalidades técnicas nas composições, o que contraria a afirmação do
secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Jurandir
Fernandes, de que o tumulto teria sido causado por “grupos organizados”
(ver quadro). “Os seguranças do Metrô relataram na reunião
extraordinária que não viram ninguém com o rosto coberto ou pessoas
envolvidas em atos de vandalismo que pudessem caracterizar grupos
organizados”, disse à ISTOÉ um condutor da Linha Vermelha. Os perigos
são imensos diante da quantidade de usuários da Linha 3 do Metrô. São
aproximadamente 629 mil passageiros por dia. Para atender à forte
demanda, os trens são colocados em circulação mesmo apresentando falhas
graves. “Provar a eficiência dos trens se torna uma prioridade em
detrimento da segurança das pessoas”, diz um funcionário do Metrô. O
mesmo operador diz que os maquinistas foram impedidos de ter acesso aos
softwares que registram as falhas técnicas. “É inadmissível uma
sequência de falhas como as que foram vistas em um metrô moderno como o
de São Paulo, que transporta milhões de usuários”, afirma Cláudio Weber
Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil.
Procurado por ISTOÉ, o Metrô informou, por meio de sua assessoria de
imprensa, que “todos os sistemas de metrô do mundo estão sujeitos a
falhas e elas são proporcionais ao número de viagens realizadas, à
quilometragem percorrida e à quantidade de passageiros”. A assessoria
informou ainda que “os trens da frota K passam pelo mesmo processo de
manutenção preventiva das demais frotas novas ou modernizadas. Essas
frotas, que recentemente iniciaram sua operação, necessitam de um
período de ajustes até que comecem a apresentar seu melhor desempenho”. O
problema é que parte da Frota K circula desde 2011.
Fonte da Notícia a Imagem: Diário da CPTM
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