O Governo do Estado de São Paulo afirma que a demora da Prefeitura em
fazer desapropriações para obras do Metrô coloca em risco o andamento
da construção de duas linhas. Segundo a companhia, se 1.200 famílias não
forem retiradas ainda este ano, os trabalhos correm risco de ser
interrompidos a partir do segundo semestre.
As linhas em risco são as maiores apostas do Estado para resolver os
problemas de mobilidade da cidade: os monotrilhos das Linhas 15-Prata
(da Vila Prudente à Cidade Tiradentes, na zona leste) e 17-Ouro (do
Aeroporto de Congonhas ao Morumbi, na zona sul). Os projetos somam R$
5,5 bilhões em investimentos.
A vantagem dos monotrilhos é justamente a possibilidade de a
construção ser mais rápida e barata, já que as linhas ficam acima do
solo, em vias elevadas. No entanto, os projetos que o Metrô fez para as
duas linhas contavam com a participação da administração municipal - e
convênios firmados na gestão Gilberto Kassab transferiam à
Prefeitura a responsabilidade de fazer algumas desapropriações para
abrir espaço para os trilhos.
No caso da Linha 15-Prata, o Metrô diz ter condições de honrar
compromissos públicos de entregar dez estações até o ano que vem, até o
distrito Iguatemi. De lá em diante, diz o secretário de Estado dos
Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, a obra só continua se
houver desapropriações na Avenida Ragueb Chohfi e nas Estradas Iguatemi e
dos Metalúrgicos. Essas vias precisam ser alargadas para receber
canteiros centrais, onde o viaduto do monotrilho é erguido. A promessa é
a linha chegar a Cidade Tiradentes em 2016.
O prefeito Fernando Haddad disse, na quinta-feira (14), em
visita à região, que buscaria verbas do governo federal para duplicar a
Estrada do Iguatemi. “O metrô está longe daqui ainda, mas o dia em que
ele chegar a via vai precisar de um canteiro central”, afirmou, sem dar
prazos.
Já na Linha 17-Ouro, os problemas envolvem as duas pontas do ramal. O
projeto foi feito baseado na promessa do prefeito Kassab de construir
um túnel ligando a Avenida Jornalista Roberto Marinho (onde já há obras
do monotrilho) à Rodovia dos Imigrantes, no Jabaquara. O projeto
concluído em dezembro prevê desapropriar 8 mil famílias. “Precisamos que
a Prefeitura desaproprie ao menos 1.200 famílias imediatamente”, diz
Fernandes. Elas estão na faixa de 20 metros de largura que são
necessárias para o monotrilho.
No lado oposto, no Morumbi, a Prefeitura precisaria fazer uma
continuação da recém-aberta Avenida Hebe Camargo, e um piscinão. Senão, a
linha não chega à Avenida Francisco Morato. Questionada sobre as
supostas pendências, A Prefeitura afirmou que só se pronunciaria após a
publicação desta reportagem.
Não é a primeira vez que divergências de prazos entre Prefeitura e
Estado atrasam obras do Metrô. A própria Linha 17 tinha cronograma
original de conclusão para 2014, na Copa do Mundo. Mas ela atrasou,
entre outros motivos, por demora na emissão de licenças ambientais por
parte da Prefeitura, na gestão Kassab.
Moradores
Moradores da área que, segundo o Estado, precisam ser desapropriadas
para a construção da Linha 17-Ouro, no Jabaquara, zona sul, se dizem
indignados com a falta de informação por parte da Prefeitura sobre a
saída deles.
A dona de casa Antônia Moretto L’Abate, de 66 anos, diz que a
informação que corre no bairro é a de que as notificações para as
desapropriações devem chegar em junho. “Já colocamos um advogado para
ver isso. Eles não dizem nem se sairemos nem se não. Só falam que a
retirada não está fora de cogitação. Isso é coisa para se falar para o
povo?”, questiona.
O aposentado José Carlos Ferreira, de 68, é mais prático. “Preciso
reformar a casa. Mas não sei se faço ou não a obra porque não sei se
fico aqui. E tem mais: o pessoal que mora na favela vai receber
apartamentos. Eu não sei se o que eles vão me pagar vai dar para comprar
outra casa.”
Boa parte das 8.000 famílias na área de desapropriação habita
favelas. A promessa é de que sejam construídas moradias populares para
elas e só então haveria a saída delas.
O
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