No pátio de manutenção da Companhia do
Metropolitano de São Paulo (Metrô) no Jabaquara, parte dos vagões de dois trens
está coberta por uma lona laranja. O plástico tenta esconder o resultado de um
acidente ocorrido no sábado 1 de dezembro, quando uma composição reformada se moveu sozinha
e colidiu de frente com outro veículo que estava parado para revisão. Não houve
feridos, mas a face dianteira e o interior do trem remodelado ficaram
completamente destruídos.
O acidente na doca não deve representar
problemas imediatos de segurança na linha azul do metrô, mas a omissão do
episódio pela empresa desperta desconfianças. O caso se tornou público apenas na
terça-feira 4, por pressão de uma denúncia do Sindicato dos Metroviários. E o
episódio se junta a outro semelhante: a estatal escondeu por quatro meses a
perda de mais de 15 mil caixas de seus documentos em um incêndio criminoso em
julho. Só revelou o ocorrido no sábado, quando, coincidentemente, evitou passar
informações sobre a colisão.
Este acidente envolve ainda outro aspecto
polêmico. O trem responsável pelo choque foi reformado com outros veículos pelo
consórcio Alstom/Siemens, o que levanta questionamentos sobre se há uma relação
entre a colisão e as remodelações. Por enquanto, a Comissão Permanente de
Segurança (Copese), composta por integrantes da manutenção, projeto e operação,
investiga o caso e deve emitir um relatório entre 15 e 30 dias.
Até lá, a empresa não especula sobre as causas
do acidente. “Não comento se a culpa foi da se modernização. Pode ser ou não,
depende do relatório da Copese”, diz Milton Gioia, gerente de manutenção do
Metrô, durante uma visita do deputado estadual Simão Pedro ao pátio no
Jabaquara, na quarta-feira 5.
Não se sabe ainda o tamanho do prejuízo ou se
há influência da reforma, mas o consórcio vencedor da licitação de remodelação
entrou na mira do Ministério Público. Em 2009, a estatal decidiu abrir concorrência
para reformar 98 trens, alguns com mais de 30 anos de uso, ao custo total de
1,75 bilhão de reais. Na prática, o valor de cada composição reformada equivale
a 86% do preço de um trem novo.
Embora o Metrô evite especulações, entre os
técnicos da empresa, que pediram para não serem identificados, a tese mais
defendida é que o problema deriva da reforma do sistema e dos trens. Segundo
eles, o sistema possui três modos de emergência: o “homem morto”, alavanca e
botão de emergência. A falha teria ocorrido no “homem morto”, que para
imediatamente o trem caso o operador solte um dos controles. No momento do
acidente, um operador havia acabado de deixar a cabine do trem remodelado.
Trabalhadores que presenciaram o choque relatam
que a composição atingiu cerca de 15 quilômetros por hora e quase atingiu um
técnico de manutenção. “Se fosse durante a semana, haveria vítimas porque
poderiam ter pessoas trabalhando embaixo do trem. Foi gravíssimo”, disse um
funcionário da estatal que não quis se identificar.
O veículo estava em uma parte dos trilhos
alimentada automaticamente por eletricidade, o que pode ter contribuído para o
incidente, de acordo com os técnicos do Metrô. Quando o operador fechou a porta,
o sistema teria entendido que a ordem era para acelerar. Caso estivesse nos
trilhos das docas de manutenção, isso não seria possível, pois a energia no
local é acionada manualmente.
Caso não houvesse a colisão, acreditam os
técnicos, o trem pegaria aceleração máxima e poderia chegar ao lado eletrizado
do trilho em direção à estação Jabaquara do metrô. A possibilidade mais concreta
é que ele descarrilharia antes de ameaçar os trens de passageiros.
O sindicato enviará uma petição ao MP
solicitando “apuração urgente” do caso, omitido pelo Metrô por três dias. “Por
que não comunicar um acidente, que é de interesse público? Vamos questionar a
direção do Metrô sobre isso e queremos saber qual a relação deste acidente com
outros”, indica Simão Pedro, autor da denúncia de superfaturamento nas reformas
investigada pelo MP. A empresa alega que o “atraso” na divulgação ocorreu por
ter sido um “acidente interno sem vítimas”.
Devido à colisão, foram retirados de circulação
sete composições com características semelhantes ao trem que se movimentou
sozinho. Todos reformados pela Alstom/Siemens. Enquanto não houver um parecer
sobre os motivos da falha, os veículos não voltarão a atender os usuários. O
pátio do Jabaquara realiza a manutenção de cerca de 60 trens das linhas azul e
verde. Em média, cada composição recebe revisão em ciclos inferiores a um mês
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