Cento e quarenta linhas, divididas em dois sistemas, estrutural e local,
vão funcionar todos os dias, entre 0h30 e 4h, em São Paulo, a partir de
janeiro. Os "corujões" vão passar por corredores principais da cidade,
como as Avenidas Paulista e Faria Lima, em intervalos de 15 minutos. A
ideia é atrair novos usuários para a rede. Mas quem critica o projeto
diz que ele beneficiará somente os empresários do setor.
Atualmente, 98 linhas atendem a demanda durante a madrugada. Elas,
porém, funcionam de maneira difusa e pouco integrada. A proposta, agora,
é reorganizar e ampliar essa frota. No total, 430 coletivos, incluindo
micro-ônibus, vão circular durante a madrugada - o número representa
2,8% da frota da cidade, que é de cerca de 15 mil veículos. O custo de
operação no período noturno subirá de R$ 2 milhões para R$ 5 milhões por
mês, integralmente bancado pela Prefeitura.
O sistema será dividido em dois. O estrutural acompanhará, sempre que
possível, o traçado do metrô e do trem, e lidará com demandas maiores
entre regiões distantes.
Já o local percorrerá os bairros a partir de pontos de integração com as
linhas longas, como os terminais. Serão ônibus circulares, que vão
rodar em bairros onde há demanda por transporte à noite, como a Vila
Madalena, na zona oeste. Esses ônibus devem ter saídas mais espaçadas, a
cada meia hora. As próprias empresas que operam durante o dia farão o
serviço noturno.
O estudo que permitirá um transporte público 24 horas na cidade está em
fase final de elaboração. Os principais pontos foram adiantados nesta
quinta-feira, 5, ao Estado pela SPTrans, que gerencia a rede.
Remuneração
A
SPTrans estuda pagar as empresas de ônibus dos "corujões" por quilômetro
rodado - e não por passageiro, como é feito no sistema atualmente. A
medida, criticada por especialistas, garantiria o lucro das empresas
mesmo se poucas pessoas usarem o serviço. "Se não (for assim) vai ser
difícil fazer funcionar bem", afirma a diretora de Planejamento da
SPTrans, Ana Odila de Paiva Souza.
O urbanista e consultor de engenharia de tráfego Flamínio Fichmann
critica a mudança. "Isso me parece uma solicitação clara dos
empresários, que está sendo atendida indevidamente pelo poder público.
Tiraram o passageiro como fator de pagamento porque você não tem
garantia de que haverá muitos usuários (no horário)."
Além disso, para ele, a elevação dos custos de operação do sistema de
corujões só seria justificada após análise e projeção de demanda. A
Prefeitura ainda não tem ideia de quanta gente deve ser atraída para a
rede madrugadora. Atualmente, 15 mil passageiros são transportados de
madrugada pelos ônibus, número que sobe para 25 mil nos fins de semana.
Mestre em Transportes pela USP, Horácio Augusto Figueira concorda que é
preciso fazer uma pesquisa para saber exatamente a demanda. Ele é a
favor dos corujões. "A sociedade pode ter ganhos de redução de acidentes
com carro de madrugada." Para a SPTrans, a nova rede também beneficiará
quem estuda e trabalha à noite.
Mais luz
Além dos
"corujões", a iluminação em mais de cem pontos de conexão espalhados
pela cidade será reforçada, em uma parceria com o Ilume. Eles também terão informações sobre as
linhas noturnas que passam por ali, explica Ana Odila.
"Nós queremos atrair uma demanda, que é a de lazer. Com a lei seca, está
mais difícil ir de carro (para bares e baladas), então bastará usar o
transporte coletivo", afirma a diretora da SPTrans.
Fonte da Notícia: Estadão
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