A
superlotação do metrô de São Paulo chegou às ruas. Passageiros da Linha
3-Vermelha esperam até 30 minutos para ultrapassar as catracas das
estações na zona leste - o trajeto entre Itaquera e Sé é percorrido, em
média, em 50 minutos. As filas gigantescas tomam as passarelas - todas
descobertas - e invadem as calçadas. Uma das paradas mais afetadas é a
Corinthians-Itaquera, que dá acesso ao Itaquerão, estádio que terá jogos
da Copa no ano que vem.
Foi acompanhado
a rotina dos usuários da Estação Artur Alvim, entre 6h30 e 7 horas, na
semana passada. Nesse horário aumenta a demanda no embarque no sentido
centro. As reclamações são generalizadas. "Tenho de acordar muito mais
cedo por causa das filas. Fico de 20 a 30 minutos esperando só para
entrar no metrô todos os dias", diz o fisioterapeuta Aarão da Cruz, de
38 anos, que desembarca na Sé.
Há dias em que a
espera pode ser mais longa ou mais complicada ainda. "Quando chove,
vira bagunça e todo mundo tenta ir para a parte coberta", diz a auxiliar
de escritório Iara Patrícia, de 18 anos, na Estação
Corinthians-Itaquera. Ela conta que, em dias de caos no metrô, chegou a
esperar uma hora do lado de fora. "Demorei duas horas para chegar ao
trabalho. Deveriam gastar menos no estádio (Itaquerão) e mais no metrô", diz.
A representante
comercial Maria Cruz, de 27 anos, afirma que a fila em Artur Alvim se
divide em três. "Ela faz uma bifurcação para os dois lados da rua. Tem
outra parte dela, que é a pior, que começa da outra entrada do metrô,
pelo terminal de ônibus."
O estudante
Danilo Liberato, de 17 anos, que pega o metrô diariamente na
Corinthians-Itaquera, diz que, às vezes, fica difícil até descobrir onde
começa a fila. "Tem dias que forma um caracol na passarela, com as
pessoas indo e voltando." Para o churrasqueiro José Antonio da Silva, de
55 anos, a espera para passar pela catraca é só começo do sufoco.
"Depois tem de pegar o trem lotado, daqui até a Estação Santa Cruz, onde
eu desço."
Pela Linha
3-Vermelha, a mais lotada de todas as cinco da rede, passavam em 2012,
por dia, 1,191 milhão de passageiros, em média. Foram cerca de 70
milhões a mais de pessoas diariamente na comparação com 2011, quando
1,119 milhão de usuários circulavam pela linha.
No sistema
inteiro, a demanda subiu 70% entre 2010 e 2012, passando de 2,7 milhões
passageiros transportados por dia para 4,6 milhões.
Redes sociais
Com
mais gente assim, não é só para passar pela catraca que os passageiros
pegam filas. Nas baldeações, em horário de pico, os passageiros também
precisam ter paciência. O caminho entre a Estações Paulista e Consolação
pode demorar mais de 15 minutos.
Enquanto
esperam na fila, muitos usam as redes sociais, como Twitter, para
reclamar. Ao vivo, perfis colaborativos dão informações a seus
seguidores sobre problemas como falhas na rede e lotação em determinados
trechos. Outros fazem filmes e postam no Facebook. A principal cobrança
- tanto na internet quanto pessoalmente - é por mais trens.
O professor de
engenharia civil Heitor Kawano, do Centro Universitário FEI, afirma que
chegou a um ponto de saturação que é impossível aumentar o número de
trens. "O intervalo mínimo é o que, tecnicamente com segurança, pode
ser", afirma.
As filas
acontecem por causa do controle de fluxo feito pela companhia, diz
Kawano. "Imagine se o metrô não tivesse catraca. Começaria
empurra-empurra, desconforto na plataforma. É preciso controlar o fluxo
de entrada de passageiros, de maneira que as pessoas consigam entrar nas
estações com segurança."
A lotação
acontece em uma cidade com oferta de empregos centralizada e onde um
grande número de pessoas entra às 8h. À tarde, principalmente pelo
grande número de pessoas que estudam à noite, o fluxo de passageiros
voltando para casa se dilui em vários horários.
O arquiteto e
consultor em Transportes Flamínio Fichmann defende que a solução seria o
Metrô ajudar a investir em um corredor expresso de ônibus entre
Itaquera e a região central, pela Radial Leste. "Esse sistema custaria
menos de 2% do investimento de uma nova linha."
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